quarta-feira, outubro 10, 2007

Caminho, Verdade e Vida

Se eu fizesse uma lista das minhas citações preferidas de Jesus, João 14, 6 estaria perto do topo. Jesus disse:

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.

Esta frase de Jesus é importante para mim porque é uma espécie de sumário não dos ensinamentos, mas do propósito deles.

Tal como outros líderes espirituais, Jesus fez da sua vida a sua mensagem. Abandonou tudo para espalhar a sua doutrina, e estava disposto a morrer por ela. Tudo o que era suficientemente importante para ser registado por escrito sobre Jesus não é propriamente sobre Jesus mas sim sobre o que ele ensinava e como o fazia. O que sabemos sobre Jesus é a sua mensagem. Jesus é a sua mensagem.

Quando nesta frase Jesus diz "eu sou", o que "é" não é ele, Jesus-homem, nem ele, Jesus-mestre, mas sim ele, Jesus-mensagem. Está escrito "eu sou", mas podia estar escrito "a minha Mensagem é":

A minha Mensagem é o Caminho, a Verdade e a Vida.

A Mensagem de Jesus é o Caminho para o Reino de Deus. Convém aqui clarificar que o Reino de Deus tal como Jesus o entendia não é sinónimo de Paraíso nem de Céu. O Reino de Deus não é um sítio para onde se vai, é um estado de espírito. Como disse Jesus, "o Reino de Deus está dentro de ti." (Lucas 17, 21) O Reino de Deus é a Felicidade suprema.

A Mensagem de Jesus é a Verdade. A Verdade manifesta-se de várias maneiras, mas é apenas uma. Não é mesmo à toa que se diz que o Amor é a religião universal.

A Mensagem de Jesus é a Vida. Existir não é viver, toda a gente sabe. Jesus mostra-nos o Caminho para a felicidade e por conseguinte para a Vida boa plena, e para a eternidade, que se atinge em vida não depois da morte.


É muito interessante notar que os primeiros cristãos não denominavam a doutrina que seguiam por Cristianismo mas simplesmente por Caminho, e tinham por objectivo aplicar os ensinamentos de Jesus em vez de lhe chamarem "Senhor, Senhor" (Mateus 7, 21). Gosto dos primeiros cristãos.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A César o que é de César

Não gosto quando tentam transformar Jesus num rebelde político. A mensagem de Jesus não tem nada a ver com política, não tinha no tempo dele, não tem agora, e não irá ter nunca. Quando os Judeus estavam sob o jugo Romano, Jesus não fez nenhum apelo à rebelião. Pelo contrário, o seu comentário à situação foi muito interessante. (Mt 22, 15-22)

A história passou-se assim: uns fariseus queriam ver se apanhavam Jesus em falso nas suas doutrinas, por isso decidiram fazer-lhe uma pergunta com armadilha. Perguntaram-lhe: "É lícito ou não pagar o imposto a César?" Esta pergunta traz água no bico. Se Jesus respondesse que não, podia tornar-se rebelde aos olhos dos romanos, se respondesse que sim, ficava mal visto aos olhos dos judeus, por aceitar a submissão do povo.

Mas claro que Jesus os topou logo. Pediu que lhe mostrassem a moeda do imposto, e perguntou, "De quem é esta imagem e esta inscrição?" É de César. Então Jesus disse:

- Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Esta é bem capaz de ser a frase mais separatista do estado e da Igreja em toda a Bíblia. Depois dela, é ridículo insinuar que Jesus era um rebelde político. Rebelde espiritual, talvez, mas político, nunca.

Lembrei-me desta passagem quando no outro dia estava a ver uma reportagem sobre a religião nos Estados Unidos. Aquilo é assustador: eles juntam-se por denominações e votam em massa nos candidatos que estão mais próximos dos seus dogmas e ideais. Os padres/ pastores/ líderes espirituais fazem mesmo campanha durante os serviços religiosos… E depois, claro, temos o famoso "God bless America" no final de todos os discursos do presidente.

Nos dias que correm não se justifica um estado ligado à religião, seja ela qual for. Só traz problemas. Especialmente se o livro dessa religião especificar o território que lhes pertence por "desígnio divino" – mas isso são divagações para outro post. As decisões do Governo não devem nunca ser influenciadas pelos preceitos religiosos. Há tantas religiões diferentes em cada país que jamais seria possível agradar a todos, por isso mais vale deixar a religião de lado definitivamente.

Claro que isto não significa que se tomem decisões sem qualquer tipo de background moral. Devem existir valores e ética pela qual o Estado se rege, que ainda tem o bónus especial de ser comum a 99% de todas as religiões. Também acho que um cristão deve votar enquanto cristão – mas não necessariamente no candidato "cristão", se é que isto faz algum sentido.

Mas acima de tudo, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Gostava de deixar de ver bispos em cerimónias do Estado. E gostava que não tivessem dito que "a Igreja perdeu" quando o sim ganhou no referendo do aborto.

sexta-feira, agosto 24, 2007

To be Christ-like

Estava hoje a ler este post. A parte interessante aqui para o caso é o primeiro parágrafo:

This is my confession; I use to believe that I could be like Christ! Yes! I had the audacity to think that I could live a sinless life (the way our Lord did).

O autor do post diz depois que prefere seguir um modelo mais "humano": Paulo (lol?).

Esta é uma atitude que já vi antes, e que nunca hei-de compreender. Neste contexto, ser como Cristo significa ser perfeito. A mim parece-me um bom objectivo: ser perfeito. Porquê mudar esse objectivo para "ser menos que perfeito"? Se nunca procurarmos a perfeição, nunca a atingimos. Claro que o provável é também não a atingirmos mesmo que a procuremos, mas neste caso pelo menos tentámos.

Acho que no fundo, isto acaba por reflectir um tipo de mentalidade muito típica entre certos cristãos. A ideia do sofrimento eterno, da negação total do self (no sentido psicologicamente mais negativo), e uma data de outros complexos. Somos humanos: temos os nossos defeitos, as nossas falhas; está na nossa natureza, paciência. Mas também não somos um monte de lixo sem qualquer valor! E não faz qualquer sentido seguir uma doutrina se não se quer atingir o objectivo máximo da mesma.

Esqueçamos "Cristo". Pensemos antes em "Jesus", que era homem. Jesus disse e fez muitas coisas boas, e uma das coisas que é importante lembrar é a recomendação que ele deixou: sigam o meu exemplo, façam como eu.

É um uma perda de tempo andar a seguir o exemplo daqueles que seguiram o exemplo de Jesus. Em vez de jogarmos ao telefone avariado, mais vale ir directamente à fonte. Se é uma questão de estatuto, eu voto em que se passe a dizer Jesus-like em vez de Christ-like. Assim evita-se essa "arrogância" que preocupa tantos cristãos.

É claro que não há nada de errado em seguir o exemplo de outras figuras importantes. Pessoalmente, admiro Maria Madalena e João. E tenho uma preferência especial por Tomé, o discípulo céptico. Mas não acho que faça sentido absolutamente nenhum imitar os Discípulos e não o Mestre.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Shalom <3

Não sei porque é que às vezes estas coisas acontecem, mas acontecem. Uma pessoa fica com a cabeça cheia de coisas, e uma ou outra acaba por ficar esquecida. Bem, não inteiramente esquecida, mas...

Hoje calhou tropeçar num link para o site da Anne Rice (sim, da Anne Rice!). A frase que fez o "click" foi "Commitment to Christ is by its very nature absolute." Seja Christ, Lord, Master, Teacher, ou Jesus, seja qual for a palavra que se queira encaixar nessa frase, uma coisa é verdadeira e incontornável: neste contexto, "commitment" e "absolute" estão sempre juntos. Ou deviam estar.

Tenho aqui o Buddy Christ ao meu lado, com aquele sorriso e aquele thumb-up muito cool. Right back at you, mate. Desta vez prometo que não desapareço.

sábado, junho 23, 2007

Adonai Elohim?


Olhai: Ele vem no meio das nuvens! Todos os olhos o verão.
(Apocalipse 1, 7)

A Visão de Henoc

in Evangelho Essénio da Paz

God Speaks to Man

I speak to you.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
When you were born.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
At your first sight.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
At your first word.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
At your first thought.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
At your first love.
Be still.
Know
I am
God.

I spoke to you
At your first song.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the grass of the meadows.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the trees of the forests.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the valleys and the hills.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the Holy Mountains.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the rain and the snow.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the waves of the sea.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the dew of the morning.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the peace of the evening.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the splendor of the sun.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the brilliant stars.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the storm and the clouds.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the thunder and lightning.
Be still.
Know
I am
God.

I speak to you
Through the mysterious rainbow.
Be still.
Know
I am
God.

I will speak to you
When you are alone.
Be still.
Know
I am
God.

I will speak to you
Through the Wisdom of the Ancients.
Be still.
Know
I am
God.

I will speak to you
At the end of time.
Be still.
Know
I am
God.

I will speak to you
When you have seen my Angels.
Be still.
Know
I am
God.

I will speak to you
Throughout Eternity.
Be still.
Know
I am
God

I speak to you.

Be still.
Know
I am
God.

quinta-feira, maio 31, 2007

Jesus, o Nórdico

Não tenho escrito ultimamente. Não é que faltem pensamentos nem meditações. Não sei se esses alguma vez vão faltar. O que tem faltado são as palavras.

Enquanto elas não vêm, aqui fica um Jesus bonito e loiro.

sábado, maio 19, 2007

Cristo Juíz, o Feroz

Descobri a pior foto de "Jesus" de sempre. Acreditem ou não, isto está mesmo dentro de uma igreja.

domingo, abril 08, 2007

Jesus Está Vivo


O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.
(Mateus 24, 35)

sábado, abril 07, 2007

Vigília Pascal

Fui à missa pela primeira vez. Não tenciono voltar.

Sendo que esta era uma das missas mais importantes do ano, se não mesmo a mais importante, estava à espera de uma coisa mesmo gira, e foi por isso que fui. Primeiro houve a coisa do fogo (Jesus é a Luz que ilumina os Homens), e ia toda a gente com as velinhas acesas. Essa parte até tinha a sua razão de ser. Mas por que é que Jesus é a Luz? Não se leu nenhuma passagem "luminosa", não se citou Jesus. Disseram prali umas coisas de "eu renuncio" e "eu creio" e pronto. Depois cantaram umas musiquinhas, que descritas numa palavra eram: horríveis (nada como "Jesus is my Rock"). Até na música conseguem pôr sofrimento...

As passagens que se leram foram a Criação, com o seu célebre versículo vegetariano (Génesis 1, 29) - mais uma vez, ignorado -, a travessia do Mar Vermelho, e a passagem da Ressureição (Lucas). De todas as passagens interessantes que podiam ter lido, foram estas que escolheram... A Criação nem vou comentar. Um discurso daqueles nos dias de hoje não tem explicação possível. A travessia do Mar Vermelho... Quanto a isto só tenho duas coisas a dizer. Primeiro, como é que não se riem quando dizem "os nossos antepassados" referindo-se aos Judeus? Mas será que alguma daquelas pessoas ali tinha sangue judeu? Segundo, como é que conciliam aquele Deus vingativo, sádico e incitador de guerras com o Deus Caritas Est de Jesus? Também não sei qual é a razão de ser de uma música ou hino ou whatever cujo refrão começa com "o Senhor é um guerreiro". Deus pareceu-me um sanguinário.

Fartaram-se de citar "S." Paulo durante a missa. Quanto a isso já disse o que tinha a dizer. Mas não consigui evitar uma certa náusea cada vez que o padre dizia aquele nonsense da epístola aos romanos...

Aliás, aquele padre parecia perito em dizer coisas horríveis. A pior de todas foi qualquer coisa do estilo: "A nossa fé começa na Páscoa, e sem ela não faria sentido. Sem a Ressureição, o Cristianismo não existiria." Hã?? O que eu temia afinal é mesmo verdade: tudo o que Jesus disse e fez antes da Paixão não tem qualquer relevância. Até se podia ter dedicado ao malabarismo que era igual. Se Jesus não venceu a morte, nenhum dos seus ensinamentos tem qualquer autoridade, nem o seu exemplo é bom - é esta a mensagem que se passa na igreja? Isto irrita-me; e faz-me sempre lembrar pessoas que só fazem certas coisas pela recompensa...

Para além da péssima homilia, também não gostei dos rituais todos. Para que é todo aquele senta-levanta-senta-levanta, e as coisas decoradas que se respondem ao padre? E o cestinho da esmola... Não era Jesus que não gostava que se desse esmola em público? (Mt 6, 1-6)

No geral, pareceu-me tudo muito vazio. E se me ponho a imaginar tudo aquilo em latim, como o Bento XVI quer... Definitivamente eu gosto tanto da Igreja Católica como de nozes rançosas, e não fosse o facto de ser dominante neste país e no mundo, estava decidida a ignorar a sua existência até ao final dos meus dias. Não pretendo com isto ofender nenhum bom católico que esteja por aqui a passar - gosto tanto de católicos como de qualquer outra pessoa.
Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles.
(Mateus 18, 19)
Estavas lá, Yeshua? Não te vi.

sexta-feira, abril 06, 2007

Mc 15, 34-37

E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?», que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Ao ouvi-lo, alguns que estavam ali disseram: «Está a chamar por Elias!» Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre, pô-la numa cana e deu-lhe de beber, dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-lo dali.» Mas Jesus, com um grito forte, expirou.

A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, & Eu

No outro dia fiz um quiz chamado Are You a 'Passion' Christian? Tive 17 numa escala de 0 a 100: You probably didn't like "The Passion of the Christ" and may even have found it offensive. For you the heart of Christianity is not so much in Jesus' sufferings but in his living example and ethical teachings.

Claro que a segunda frase está certa. Mas a primeira até é um bocado irónica, tendo em conta que foi A Paixão de Cristo que me "apresentou" Jesus. Se eu nunca tivesse visto A Paixão, provavelmente este blog não existia, e muitas das coisas que fiz ou disse tinha feito ou dito de outra forma. A Paixão é mais do que um marco, é um verdadeiro turning point.

Wake up.

Nem sei bem explicar porquê. De acordo com todos os meus critérios, o filme nem é uma coisa assim tão boa. Para começar tem demasiada violência, que eu normalmente evito seja em que tipo de filme for. E depois, não há propriamente uma "história" a ser contada, aspecto que valorizo acima de todos os outros no cinema. Apesar disto, A Paixão é #1.

Vi o filme duas vezes no cinema (e outras tantas fora do cinema). A primeira vez foi uma das experiências mais... estranhas, que já tive. Fui com umas amigas, e saímos todas do filme em silêncio. Não é comum um grupo sair do cinema e ficar 10 minutos à porta sem falar, à espera das boleias. Acho que nenhuma de nós estava à espera do que viu. Não é pela violência, apesar de a violência contribuir, mas sim pela injustiça, pela crueldade. Jesus era um homem pacífico, não merecia o que lhe fizeram.

Jim Caviezel também tem muito a ver com o efeito do filme. A representação dele é tão perfeita, que no ecrã quem eu vejo é Jesus, não o Jim. Se já viram o filme, lembrem-se de quando ele está na cruz e olha para a câmara, através da câmara. Se o efeito pretendido era um olhar-até-à-alma, foi conseguido.

Wake up.

Da segunda vez que vi o filme chorei o tempo todo. Dizem que chorar faz bem, e eu às vezes até acho que é verdade. Fui ler os Evangelhos com mais atenção. Já tinha lido um, Mateus, mas não dei muita atenção. Com a segunda leitura, tudo fazia muito mais sentido. Então este era o homem que eu tinha visto morrer no cinema. Achei maravilhosas as coisas que ele dizia e fazia.

WAKE UP

Às vezes temos momentos na vida que mais tarde dizemos terem sido a nossa "wake-up call". Eu tive uma wake-up call em duas partes. Uma mensagem em duas partes. Primeiro, um Jesus ensaguentado, coroado com espinhos, dizendo "Vês, Mãe, eu renovo todas as coisas". Depois, um Jesus sorridente falando sobre a Regra de Ouro.

Não acho que Jesus se resuma à sua Paixão. Partir deste princípio é negar tudo o que ele disse e fez durante a sua vida. E há muitas pessoas, talvez Mel Gibson incluído, que o fazem. E se A Paixão de Cristo resume em si o coração da Cristandade, não me parece uma coisa muito interessante. Mas se teve este efeito em mim, se calhar até o teve noutras pessoas, por esse mundo fora. Só por isso, SHALOM! a todos aqueles que trabalharam para o fazer.

domingo, abril 01, 2007

Hosanna!

Bem-vindo, Jesus!



Hey JC, JC, won't you smile at me?

domingo, março 25, 2007

He who loves me is made pure. His heart melts in love.

Recebi há uns dias uma coisa maravilhosa. Faz parte de um dos textos sagrados hindus, Srimad Bhagavatam. E apesar de o hinduismo não ter nada a ver, estes versos aplicam-se de tal maneira que tenho que partilhar.

He who loves Me is made pure;
his heart melts in joy.
He rises to transcendental consciousness
by rousing his higher emotions.
Tears of joy flow from his eyes,
his hair stands on end,
his heart melts in love.

He who loves me is made pure. Talvez se este poema fosse da minha autoria dissesse "he who knows me", mas acaba por ir dar ao mesmo. To know you is to love you, não era o que cantava a Madonna?

O último verso é simplesmente perfeito. His heart melts in love.

Her heart melts in love.

sábado, março 24, 2007

Paulo, o Anticristo - Parte II

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.
Jesus
(Mateus 7, 22-23)

É evidente que a maioria dos esforços de Paulo eram empregues contra a Lei, fosse ela a Lei de Moisés, que os judeus seguiam, ou a Lei perfeita que Jesus ensinava. O falso apóstolo pregava uma doutrina de salvação através da fé em vez das obras, e com isso conseguiu inúmeros seguidores.

Mas há outros pontos fundamentais da doutrina de Jesus que Paulo também fez questão de mutilar. Comecemos por um tema muito em voga hoje em dia: a homossexualidade. As passagens mais citadas contra a homossexualidade fazem parte das cartas de Paulo.

Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro.
(Romanos 1, 26-27)

O que é que Jesus tinha a dizer sobre homossexuais? Na verdade, nada. Jesus falou aberta e insistentemente contra ladrões, contra hipócritas, contra pessoas de mau coração. Mas nunca contra homossexuais. Se a homossexualidade é algo tão aberrante, porque é que Jesus nunca o classificou como tal? Para mais, Jesus aceitava todas as pessoas. Não me é difícil imaginá-lo a comer à mesa com um casal gay. Já Paulo... (1 Cor 5, 11)

Notem que nesta passagem de Romanos, Paulo afirma que as mulheres têm um "uso natural". Ou seja, servem para se deitarem com os seus maridos. Esta é uma afirmação simplesmente inaceitável. A mulher não foi feita para o homem se servir dela. Mas Paulo gostava de dizer o contrário. E dizia mais:

Vós, mulheres, estai sujeitas a vossos próprios maridos, como convém no Senhor
(Colossenses 3, 18 e também Éfesos 5, 22-24)

As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
(1 Corintios 14, 34-35)

Mas Jesus via as mulheres de uma outra forma. Eram alvo da sua atenção e compaixão inúmeras vezes. E, evidentemente, considerava-as dignas dos seus ensinamentos. Ao contrário do que era hábito na altura, Jesus gostava de ter mulheres na sua audiência (Maria e Marta).

A conversa mais longa que Jesus teve com alguém foi com uma mulher: a samaritana que encontrou junto do poço. E foi precisamente essa mulher que trouxe toda a sua aldeia à Mensagem de Jesus. Como se compara isto com os ensinamentos de Paulo que a mulher não é importante na igreja?

Temos outras provas de que Jesus considerava as mulheres iguais aos homens. Quando foi criticado por ajudar uma mulher inválida. Jesus defendeu-se, dizendo que ela era uma Filha de Abraão, ou seja da mesma proveniência e logo, igual. São várias vezes mencionadas nos Evangelhos as mulheres que seguiam Jesus com os Apóstolos. Elas ajudavam o grupo financeiramente, e renunciavam às mesmas coisas a que todos os outros discípulos. Os discípulos eram, portanto, iguais, homens e mulheres.

Paulo reflectia esta posição nas suas cartas? Não.

Paulo era também adepto da escravatura. As suas palavras foram muitas vezes evocadas para justificar a escravatura e contra-argumentar a abolição.

Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo.
(Tito 2, 9-10; e também Efésios 6, 5)

Jesus, porém, dizia "trata os outros como queres ser tratado". E há que ter em conta também que Jesus era Nazareno (Essénio), e que este povo foi o primeiro de que se tem registo a condenar e abolir a escravatura .

Há outras diferenças evidentes entre as palavras de Jesus e de Paulo. Três exemplos:

Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as materiais? Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós?
Paulo (1 Cor 9, 11-12)

E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. De graça recebestes, de graça dai.
Jesus (Mateus 10, 7-8)

Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.
Paulo (Romanos 10, 4)

Não cuideis que vim destruir a lei.
Jesus (Mateus 5, 17-18)

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas.
Paulo (Efésios 1, 7)

Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.
Jesus (Mateus 6, 14-15)


E tantas outras, que se as fosse enumerar todas escrevia um livro não um post. Os livros já estão escritos, e estiveram escritos 2000 anos. Leiam-nos e tirem as vossas próprias conclusões. Quem era Paulo? Apóstolo ou Anticristo?

terça-feira, março 13, 2007

Paulo, o Anticristo - Parte I

Anticristo (s. m.): um oponente de Cristo
um adversário de Cristo que governará o mundo até ao Retorno de Cristo
o último perseguidor da doutrina de Cristo que aparecerá no fim do mundo para combater o cristianismo e trazer à humanidade os maiores sofrimentos.

Acho que o título deste post assusta/escandaliza/indigna muita gente. Pensem que "anticristo" significa apenas "contra Cristo". Se Cristo é Jesus e Jesus é a sua Mensagem, então o anticristo é alguém que prega uma doutrina oposta à verdadeira doutrina de Jesus. Vejamos então se Paulo cabe neste definição.

O ponto alto (ou um dos) do ministério de Jesus é o Sermão da Montanha. Jesus reuniu um número extraordinário de pessoas num monte e ensinou-lhes as Bem-Aventuranças (Mateus 5, 1-12), de onde retiramos os pilares para uma vida Perfeita: justiça, paz, humildade, misericórdia, pureza de coração. Jesus não fala sobre fé, nem sobre si próprio durante este sermão, mas sim sobre conduta "justa".

De facto, a preocupação de Jesus com a conduta justa é o centro de todas as suas lições. Ele disse, "Os justos terão vida eterna." (Mateus 25, 46) Quando ensinava, falava às pessoas sobre o Reino de Deus (que está "dentro de ti" [Lucas 17, 21]), e sobre como atingi-lo e ser perfeito ("Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste" [Mateus 5, 48]).

A vida justa e a perfeição manifestam-se, segundo Jesus, pelos "frutos". Árvores boas dão bons frutos, árvores más dão maus frutos. Tal como Jesus disse, "Pelos seus frutos os conhecerás."(Mateus 7, 16-17) Quer isto dizer que podemos conhecer o interior de uma pessoa pela suas acções (frutos), e separar os bons dos maus consoante as suas acções são boas ou más. Jesus disse aos discípulos que é isto mesmo que acontecerá no Julgamento (João 5, 29).

Jesus queria dos seus discípulos bons frutos. Ele próprio o disse na sua despedida, durante a Última Ceia: "Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amar-des uns aos outros." (João 13, 35) Disse também: "Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando." (João 15, 14-15)

Os bons frutos são não só a marca do discípulo mas também o requisito para a entrada no Reino de Deus: "Nem todos os que me dizem "Senhor, Senhor" entrarão no Reino do Céu; mas sim aqueles que cumprem a vontade do meu Pai que está no Céu." (Mateus 7, 21) O objectivo da missão de Jesus era ensinar os mandamentos. E ele próprio disse: "Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha." (Mateus 7, 24-27)

Todas estas coisas são evidentes na doutrina de Jesus. Basta ler o Evangelho - elas estão lá, em todas as coisas que Jesus disse e fez. No entanto, a versão de Paulo é drasticamente diferente. Segundo este, a Salvação, a entrada no Reino de Deus, consegue-se através da Fé, e não dos "frutos". Ouvir e pôr em prática os ensinamentos de Jesus não é um requisito obrigatório para "acertar contas com Deus", porque, de acordo com o "evangelho" de Paulo, apenas a verdadeira Fé pode salvar um homem. Isto o diz Paulo em diversas ocasiões:

  • "Pois estamos convencidos que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei." (Romanos 3, 28)
  • "Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto [...] não vem das obras. (Efésios 2, 8-9)
  • "Ele salvou-nos, não em virtude das obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia [...] a fim de que pela graça, nos tornemos herdeiros da vida eterna." (Tito 3, 5-7)
Paulo torna a reforçar esta ideia em Romanos 4, 6 e 2 Timóteo 1, 9. Porque era ele tão insistente neste assunto? Se toda a vida de Jesus foi ensinada a ensinar e a incentivar a cumprir os ensinamentos, será que não terão alguma importância? De acordo com Paulo, não, não têm. Aliás, Paulo nunca os cita - é essa a importância que lhes dá. Exaltando a Fé sem Obras, Paulo vira Jesus do avesso, obscurecendo o âmago da sua Mensagem - "sede perfeitos" - e substituindo-os com um novo lema: sede beatos. As duas doutrinas são radicalmente opostas. Cristo e Anticristo.

Evidentemente, os verdadeiros Apóstolos faziam o seu melhor e falavam publicamente contra Paulo. Foi o que fez Tiago, irmão, amigo e Apóstolo de Jesus, na sua epístola, respondendo directamente aos devaneios hereges de Paulo.

Queres tu saber, ó homem insensato, como é que a fé sem obras é estéril? Vedes, pois, como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé. Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta.
(Tiago 2, 20-26)

Apesar de Tiago nunca usar o nome de Paulo na sua carta, é evidente que esta é uma resposta à carta aos Romanos. Se tiverem por aí uma Bíblia comparem as passagens Romanos 3, 28 e Tiago 2, 24. Não só é a estrutura frásica idêntica como as palavras (no grego, apesar de diferirem em algumas traduções modernas) usadas por ambos são exactamente as mesmas. Tiago usa até o mesmo exemplo que Paulo, citando o mesmo versículo sobre a salvação de Abraão, mas dando uma explicação exactamente oposta à de Paulo.

É que, se Abraão foi justificado por causa das obras, tem motivo para se poder gloriar, mas não diante de Deus. [...] Àquele, porém, que não realiza qualquer obra, mas acredita naquele que justifica o ímpio, a esse a sua fé é-lhe atribuída como justiça.
(Romanos 4, 1-5)

Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado?
(Tiago 2, 21-23)


É mais um caso em que temos de escolher confiar em Paulo ou num dos Apóstolos. Fé, como disse Paulo, ou Obras, como defendia Tiago (e Jesus)?

Nem todos os que me dizem "Senhor, Senhor" entrarão no Reino do Céu.
Jesus
(Mateus 7, 21)

domingo, março 11, 2007

Paulo e Pedro, a Questionável Amizade

Jesus disse, "Tu, segue-me!" (João 21, 22)

Segundo a tradição da igreja católica, Pedro e Paulo eram grandes amigos. São representados como sendo os melhores amigos em Cristo. Mas... não era bem assim.

A primeira prova que temos vem do próprio Paulo, que desprezava as palavras e acções de Pedro, falando contra ele em público (Gálatas 2, 11-14). Por raciocínio lógico deduzimos que Pedro não podia concordar com Paulo. Sendo um dos Doze, esteve com Jesus e sabia qual era a verdadeira doutrina dele (ou seja, diferente da de Paulo).

Quando confrontados com este argumento, cristãos conhecedores da Bíblia não perdem tempo a citar a segunda carta de Pedro, capítulo 3, versículos 15 e 16: "Escreveu-nos também o nosso caríssimo irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi concedida. E assim fala em todas as Cartas em que trata destes temas; há nelas alguns temas difíceis, que os ignorantes e pouco firmes deturpam - como fazem às restantes Escrituras - para a sua própria perdição."

Ora, há algumas coisas que podemos dizer sobre esta passagem. Primeiro que Paulo tinha de facto, muitos inimigos que analizavam as suas cartas ("distorcem") e que "Pedro" considerava as cartas de Paulo "Escritura". E se assim era, então aqui está a prova que Paulo e os Apóstolos até se davam bem e que Paulo vinha da parte de Jesus. Se isto é verdade então andei aqui a perder tempo com tantos posts a desmascarar Paulo.

Claro que as coisas não são tão simples.

Douglas del Tondo no seu livro Jesus Words Only faz uma breve história do canon bíblico. Um pormenor interessante que vemos nesta cronologia é que a segunda carta de Pedro teve bastantes problemas em ser aceite. Ao fim de várias décadas foi integrada no canon, e novamente rejeitada alguns anos mais tarde, até que finalmente passou a fazer parta da Bíblia tal como a conhecemos hoje. Esta constante rejeição é suficiente para levantar algumas suspeitas. E de facto, muitos estudiosos concordam que 2 Pedro é uma pseudo-epístola, não escrita por Pedro, o Apóstolo.

Há também uma boa parte de estudiosos que pensa que estes versículos onde Paulo é referido são uma inserção (feita, nada mais nada menos que pelos fiéis discípulos de Paulo - nada de novo, é apenas mais uma táctica desonesta como todas as outras). E, efectivamente, lendo o texto em contexto, a menção a Paulo parece um pouco descabida. Mais, retirando os dois versículos, a carta continua a fazer perfeito sentido.

Na minha opinião, as duas coisas podem ser verdade. Talvez 2 Pedro seja uma fabricação, e se é, então não interessa se faz ou não referência a Paulo, ou se essa referência é uma inserção posterior ou não - é falsa e acabou. Mas se é de facto uma carta autêntica de Pedro, então os versículos são definitivamente uma inserção. Pedro jamais apoiaria Paulo.

Seja como for, é curioso olhar para um outro livro bíblico: o Evangelho de João. Os últimos capítulos, que falam dos episódios pós-ressureição, também levantam algumas suspeitas de inserção posterior. Se tal aconteceu, então não duvido que foi obra de João e os seus seguidores, eternos defensores de Jesus. Caso não sejam uma inserção, contêm, para quem acredita nestas coisas, uma profecia bastante relevante.

Pedro é sempre retractado como o discípulo com alguns problemas em manter-se fiel às suas convicções. Não foi ele que negou Jesus três vezes no momento mais difícil? Numa clara referência a este momento de fraqueza, Jesus ressuscitado pergunta a Pedro três vezes se o ama e se é seu amigo. Relembremos o que Jesus entende por amigo: "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando." (João 15, 14)

Cada vez que Pedro diz que sim, que é muito seu amigo, Jesus pede-lhe que apascente as suas ovelhas, ou seja que espalhe a sua mensagem. E depois diz o seguinte:

"Em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres." (João 21, 18)

Interpreta-se normalmente este "estender as mãos" como sendo uma referência martírio de Pedro. Eu acho que pode ser uma maneira de dizer "pregar". Mas quem é o "outro" que ata Pedro e o leva para onde ele não quer ir? Conhecendo o estilo de João, este é mais um puzzle, uma referência indirecta a alguém... E quem? Paulo, who else? Paulo, o falso apóstolo que de modo nenhum era amigo de Jesus, pois não fazia o que ele tinha ensinado, e pregava uma outra doutrina. Se Pedro era amigo de Paulo então não podia ser amigo de Jesus também. Já dizia Jesus, nenhum homem pode servir dois senhores... (Mateus 6, 24) Então Pedro era amigo de quem? De Paulo, tal como está na carta que Pedro não escreveu? Ou de Jesus, tal como está escrito no Evangelho e como o próprio Pedro disse? Não me parece haver aqui grande dúvida, sinceramente.

Até aos dias de hoje, Pedro é o único Apóstolo que se diz ter tido alguma relação de proximidade com Paulo. Se a falsa carta de Pedro, com a inserção referente a Paulo, já estava em circulação na altura em que este bocado do Evangelho foi escrito, não me espanta nada encontrar esta referência feita por João: Paulo estava a tentar levar Pedro para o seu lado e João tinha que impedir a vitória do falso apóstolo. Não é nada que João não tenha feito noutros textos (Apocalipse e Cartas).

Ainda neste último capítulo do Evangelho de João há mais uma coisa interessante. Imediatamente depois de profetizar sobre o futuro de Pedro, Jesus diz-lhe: "Segue-me!" E mais adiante, torna a dizer: "Tu, segue-me!"

Jesus parecia preocupado com os caminhos de Pedro... Talvez estas sejam palavras importantes. Segue-me. Jesus disse-o mais que uma vez durante o Evangelho: "Segue-me."

Trabalho de casa: comparar com Filipenses 3, 17, onde Paulo escreveu: "Sede todos meus imitadores."

A verdade é que ainda não acabei de falar sobre o infame Paulo. Continuo no próximo post.

quarta-feira, março 07, 2007

Paulo, o Lobo com Pele de Ovelha

Jesus disse, "Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis." (Mateus 7, 15)

Paulo era um falso Apóstolo, mas um verdadeiro patife. Fazer passar-se por um dos Doze escolhidos não foi a sua primeira obra contra Jesus. Como se sabe, e como o próprio Paulo diz em várias das suas cartas, em tom de orgulho, por vezes, antes da sua "conversão", Paulo, chamado Saulo na altura, era o maior perseguidor dos seguidores de Jesus. Esteve, inclusive, directamente envolvido no primeiro martírio, de Estêvão.

Há um outro episódio de perseguição que não se encontra relatado na Bíblia, mas sim numa carta de Pedro que faz parte do Novo Testamento Essénio. Tiago, um dos Apóstolos mais importantes, a par de Pedro e João, encontrava-se no Templo a convite dos líderes judeus, para discursarem. Primeiro falou o sacerdote, e depois Tiago tomou a palavra e falou-lhes sobre Jesus e os seus ensinamentos. Tudo o que dizia surpreendia os que o ouviam, por ser uma doutrina tão inovadora. As palavras de Tiago foram convincentes e muitos se converteram. Menos um, que se encontrava no auditório. Paulo.

Quando Tiago se calou, foi a vez de Paulo falar e proferir palavras inteligentes, mas cheias de raiva. Paulo era uma fera, e conseguiu virá-los contra Tiago e os discípulos que ali estavam, gerando-se um motim em que dezenas foram assassinados. Paulo dirigiu os seus esforços pessoais a Tiago, atirando-o do cimo das escadas. Julgando-o morto, foi se embora e deixou-o ali.

Por sorte, Tiago não morreu. Mas Paulo não desistiu e continuou a sua perseguição, falando contra Jesus, os seus seguidores e a sua doutrina sempre que podia. Para ele, tudo aquilo era uma abominação.

Mas o que é certo é que os Apóstolos eram bem sucedidos, e o núcleo de seguidores aumentava de dia para dia. A clara oposição violenta de Paulo não estava a funcionar, por isso estava na altura de pôr em prática o plano B: se não os podes vencer, junta-te a eles... e destrói-os por dentro.

Aqui entra a fantástica "conversão" na Estrada para Damasco. Paulo diz ter tido uma visão de Jesus, que lhe perguntou, "porque me persegues?" E supostamente nesta altura, Paulo emendou os seus erros e tornou-se "apóstolo". Mas como costumam dizer, mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Primeiro porque os mentirosos têm tendência a dizer "não estou a mentir", o que Paulo faz constantemente (Gálatas 1, 20 por exemplo: "Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto!")

Outro sinal de uma mentira é que a história nunca se mantém. De cada vez que a conversão é relatada, os pormenores mudam (Actos 9, 3-19; Actos 22, 6-15; Actos 26, 2-19). Até mesmo o que se passou depois é incerto, já que é relatado de uma maneira num lado (Actos 9, 19-27) e doutra noutro (Gálatas 1 e 2).

Ao que parece, os Apóstolos tiveram algumas dificuldades com esta mudança de Paulo. Primeiro, duvidaram e tiveram medo da sua aproximação. Depois, aceitaram. E quando viram que Paulo não estava interessado em seguir o que Jesus disse, renegaram-no.

João falou indirectamente de Paulo, não só no Apocalipse, mas também nas suas cartas. João tinha o hábito de não referir certas pessoas pelo nome, mas sim por títulos ou por acções. Já no Evangelho, há um "discípulo que Jesus amava", interpretado pela tradição mais ortodoxa como sendo o próprio João, ou segundo outras interpretações, Maria Madalena.

João avisa a respeito de "falsos profetas", e enumera algumas das suas características: não seguem os Apóstolos (1 João 4, 6), ensinam doutrinas contrárias, nomeadamente que Jesus não tinha um corpo inteiramente humano (1 João 4, 2), fizeram parte do grupo (de discípulos) mas afastaram-se (2 João 2, 19), e não cumprem os ensinamentos de Jesus ( 2 João 1, 9).

Tudo isto se aplica a Paulo. Se Paulo se "converteu" e foi falar com os Apóstolos, é evidente que depois se separou deles. O próprio o diz, que se separou e foi sozinho pregar aos gentios (Gálatas 2, 9). Também sabemos que Paulo não achava que os Apóstolos fossem grande coisa, apenas "pareciam ser pilares", mas a ele "não lhe acrescentavam nada". Não só não os ouvia, como chegou a confrontar Pedro publicamente sobre as suas acções, condenando-as (Gálatas 2, 11).

Paulo ensinava coisas contrárias à doutrina ensinada pelos Apóstolos. No que toca à humanidade de Jesus, Paulo dizia que Jesus tinha sido enviado na "aparência de carne humana" (Romanos 8, 3). Os Apóstolos por seu lado diziam que Jesus era inteiramente humano. E quanto a seguir os ensinamentos de Jesus, isso era coisa que não interessava a Paulo. Aliás, se nos guiássemos por Paulo apenas, nunca saberíamos nada do que Jesus disse ou fez, porque Paulo nunca fala sobre isso. Apenas ensina as suas próprias ideias e considerações.

Pela segunda vez temos de João a confirmação que Paulo não vinha da parte de Jesus (Apocalipse e cartas). Mas apesar das advertências dos Apóstolos, Paulo conseguiu o que queria. O seu séquito cresceu, o que não é surpreendente, já que o seu "evangelho" é bem mais fácil e conveniente do que a Mensagem de Jesus. E assim, a verdadeira doutrina foi obscurecida. Quando o evangelho de Paulo chegou a Roma, Paulo atingiu o auge da sua carreira. Foi a sua melhor jogada. E até aos dias de hoje, Cristianismo é apenas o nome que se dá à religião que Paulo criou. Um nome mais apropriado seria Paulinismo, porque de Cristo há nela muito pouco.


Continua a haver muita coisa para dizer sobre este assunto. Continuo no próximo post.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Paulo, o Falso Apóstolo

Sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos. - Apocalipse 2, 2

Os Apóstolos são os discípulos mais famosos de Jesus. Há uma certa controvérsia à volta dos seus nomes, mas aceita-se geralmente que eram Pedro, João, Tiago (Maior), Tomé, Simão, André, Filipe, Tiago (Menor), Mateus, Bartolomeu, Judas Tadeu e Judas Iscariote. Isto de serem doze é bastante significativo. Doze tribos de Israel, um Apóstolo para cada uma. O próprio Jesus falava de doze tronos no Céu, um para cada Apóstolo que ele escolheu.

Quando Jesus morreu e Judas se suicidou, os Apóstolos viram-se numa situação delicada: sem Mestre e sem um dos Doze. Percebiam que o número doze era importante, por isso trataram de escolher um substituto para Judas, impondo um critério de selecção: o escolhido devia ter seguido Jesus desde o dia do seu baptismo até à sua morte (Actos 1, 21-22). Nomearam então dois homens: José, chamado Barsabás, o Justo e Matias. A decisão final foi deixada ao Espírito Santo: tiraram à sorte e a sorte coube a Matias. Matias é portanto, décimo-segundo Apóstolo que veio substituir Judas Iscariote.

E que é feito de Paulo, "o maior de todos os Apóstolos"? Pois é. A História dos Apóstolos de Jesus não tem espaço para ele. Se deixarmos de lado as presuposições e analisarmos os factos, torna-se quase impossível entender como é que ainda hoje se junta Apóstolo e Paulo. Ou Santo e Paulo.

Apesar de não ter sido nomeado por Jesus, nem cumprir os requisitos posteriormente impostos por Pedro, Paulo apresentava-se sempre como sendo um Apóstolo. É pertinente recordar aqui algo que Jesus disse: "Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro." (João 5, 31) E na verdade, para além de Paulo há apenas uma outra pessoa que lhe atribui o título de Apóstolo: Lucas, autor de Actos dos Apóstolos. Mas Lucas era um discípulo de Paulo, logo não é surpresa que trate o seu professor pelo título que este prefere.

Paulo era um homem inteligente. Sabia que os argumentos de autoridade contam, e por isso acompanha sempre a sua apresentação pela autoridade de Deus (algo do estilo "apóstolo não pelos homens mas por Jesus Cristo"). Se "Deus" lhe deu uma missão através de uma visão (uma visão bastante questionável, por sinal, já que nem o próprio Paulo a relata de maneira coerente) quem o pode desafiar? Mas ao contrário da visão, que só Paulo teve, as palavras de Jesus foram ouvidas por muita gente. Todos os que o ouviam sabiam quem eram os Doze Apóstolos.

Paulo chega mesmo a utilizar Escrituras, aplicando antigas profecias a ele próprio, nomeadamente Isaías 49, 6: "também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra." (Actos 13, 47-49) O problema com esta profecia é que se aplicava apenas a Isaías. Não a Paulo.

Portanto, até agora Paulo tem uma questionável missão "divina" e uma falsa profecia. Que mais? Ah, sim. O grande ego e a auto-adoração. Paulo achava-se, de facto, superior aos outros Apóstolos (os verdadeiros). Chega mesmo a dizer que "trabalhou muito mais do que eles" (1 Coríntios 15, 10), e fala de Tiago, Pedro e João dizendo que "pareciam ser as colunas", mas que a ele nada lhe acrescentam (Gálatas 2, 6-9). Não há em todo o Novo Testamento nenhum autor que use a palavra "eu" com tanta frequência como Paulo.

Mas a derradeira prova da falsidade deste "Apóstolo" vem de João, ou melhor de Jesus através de João. João escreveu o Apocalipse. A data exacta não se sabe, mas é bastante provável que tenha sido escrito durante a "missão" de Paulo. Se Paulo era de facto um grande Apóstolo, não há nenhuma palavra sobre a sua grandeza nesta Revelação. Há contudo, uma referência ao seu trabalho.

Logo no primeiro capítulo a aparição de Jesus diz a João que escreva o que vê num livro e o envie às sete igrejas na Ásia. Prossegue então com uma mensagem para cada uma das Igrejas. A mais relevante para o caso é a primeira, para a de Éfeso. Diz o seguinte:

"Conheço as tuas obras, o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. [...] Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." (Apocalipse 2, 2-7)

Tem-se conhecimento apenas de uma pessoa que se dirigiu à Igreja de Éfeso dizendo ser Apóstolo:

"Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus" (Efésios 1, 1)

Como se isto não bastasse, existe também este pequeno desabafo de Paulo ao seu amigo Timóteo:

"Bem sabes isto, que os que estão na Asia todos se apartaram de mim." (2 Timóteo 1, 15)

E onde é Éfeso? Na Ásia.

Também Lucas fala sobre a dificuldade de aceitação que Paulo encontrou em Éfeso. No capítulo 19 do livro dos Actos dos Apóstolos relata o sucedido. Paulo persuadiu alguns dos homens (doze, de acordo com Lucas) a deixarem o baptismo de João (convém lembrar que Jesus procurou o baptismo de João) e deu-lhes um outro baptismo "em nome de Jesus Cristo". Ensinou ali durante alguns meses, mas a maioria das pessoas rejeitaram os seus ensinamentos e falavam contra eles em público. (Actos 19, 1-9)

Então o que temos aqui? Paulo disse, "sou um Apóstolo, este é o Evangelho". A Igreja de Éfeso disse-lhe, "vai-te embora". E João, Apóstolo de Jesus, disse-lhes, "muito bem! é assim mesmo!"

Este assunto dá pano para mangas. Continuo no próximo post.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Jesus, o Libertador no Templo

And the birds gathered around him, and welcomed him with their song, and other living creatures came unto his feet, and he fed them, and they ate out of his hands. - Lection XXXIV, 3, Gospel of the Perfect Life

Uns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus e os seus seguidores chegaram a Jerusalém e dirigiram-se ao Templo. Quando chegaram, Jesus nem podia acreditar no que via. O Templo estava cheio de vendedores de gado, de ovelhas, de pombas, animais que os peregrinos compravam para oferecer em sacrifício para a purificação da alma. Havia ali também uns cambistas, que trocavam o dinheiro dos peregrinos para que pudessem comprar. Jesus encheu-se de indignação: fez sair dali todos os animais, derrubou as mesas, e disse:

- Saiam daqui! Esta é uma casa de oração, mas transformaram-na num covil de assaltantes. Não derramem sangue inocente neste lugar!

Mas... esta história não se parece com a versão que normalmente se conta... Pois é. Tal como em muitas outras ocasiões, também aqui foi distorcida a mensagem de Jesus. O ponto principal da revolta, o sacrifício animal, foi obscurecido, e um outro aspecto, bastante irrelevante para o caso, ganhou proporções desmedidas. Jesus não se estava a revoltar contra o "comercialismo" ter tomado conta do Templo.

Vejamos então. De acordo com todos os evangelhos, Jesus dá primeiro atenção aos animais, não aos cambistas. E a palavra que usa, aliás, que cita, é bastante significativa. A diferença entre "ladrão" e "assaltante" no tempo de Jesus é bastante clara: um ladrão é alguém que rouba uma maçã no mercado, um assaltante é aquele que diz "a bolsa ou a vida" e fala a sério. Simplificando: alguém que não se importa de matar para com isso lucrar. A ideia de assaltante está ligada a violência. Como disse, as palavras de Jesus são uma citação do profeta Jeremias:

Este é o Templo do SENHOR. Se endireitares os vossos caminhos e emendares as vossas obras, se verdadeiramente praticardes a justiça uns com os outros, se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes neste lugar o sangue inocente, se não seguirdes para vossa desgraça, deuses estrangeiros, então Eu permanecerei convosco neste lugar. Mas voltais a cometer todas essas abominações. Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos um covil de ladrões?
(Jr 7, 4-9, abreviado)

Estas palavras foram proferidas por Jeremias à entrada do Templo. Jesus imita este comportamento destemido, e cita o seu modelo. Mas como vemos, Jeremias não se insurge contra os cambistas. Na verdade, nem sequer lhes faz menção, o que não é de espantar, já que não existiam no seu tempo. Mas não há no discurso de Jeremias nenhuma referência ao comercio à volta da religião, sequer, mesmo apesar de usar o termo ladrões (assaltantes). Todas as suas acusações são contra os princípios morais. E apesar de o roubo, supostamente praticado pelos cobradores, ser errado, o pecado maior é o derrame de sangue inocente.

Aliás, é ingénuo pensar que Jesus estava apenas a acusar os cambistas de roubarem os peregrinos. Porque é que "o povo, ao ouví-lo, ficava suspenso dos seus lábios" (Lc 19, 48)? Se Jesus estava apenas a falar contra o roubo, não há nisso nada de extraordinário. Porque é que o povo ficava surpreendido? Mas se a sua crítica era ao sacrifício animal... Era no mínimo um ensinamento invulgar, já que entre Jeremias e Jesus não há registos de ninguém que se tenha oposto tão veementemente ao sacrifício. Os sacerdotes e os doutores da Lei, tentando preservar a sua autoridade, começaram então a conspirar para matar Jesus. Será que o fariam se ele apenas refutasse o comércio no Templo? O desafio a um dos pilares do judaísmo da altura é uma hipótese bem mais provável.

Há outras histórias, noutros evangelhos, que mostram este lado de Jesus, como a vez em que libertou uns pássaros, ou quando persuadiu um homem a não caçar. Tudo isto corrobora a teoria que diz que Jesus fazia parte de um grupo judeu que rejeitava a Lei corrompida e seguia a verdadeira Lei de Deus dada a Moisés, os Essénios. Este grupo não se dirigia ao Templo por desaprovarem dos sacrifícios de sangue que ali tinham lugar. Eram também vegetarianos. Mas disto falarei noutro dia.

Termino com uma frase que disse há uns tempos a alguém: Yeah, Jesus was pretty much an animal liberationist. Fossem todos como ele! Porque o bom senso, a compaixão e os princípios não chegam, é preciso agir também.

Se vos apetecer, vejam isto. Apesar de não ser historicamente exacto, não deixa de ser fantástico.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Blasfémia Pt 2

O que seria do mundo sem os hereges?

Blasfemo q.b., mas com uma certa piada. Ok, admito, ri-me sozinha e em voz alta quando encontrei isto. lol.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Gethsemane

O Ted Neeley é o melhor Jesus (Cristo Superstar), mas depois de ver esta performance de Steve Balsamo fiquei com algumas dúvidas. Acho que sou capaz de admitir que esta versão de Gethsemane é mesmo melhor que a do Ted (que podem ver aqui). Aliás, é quase melhor, porque o "Alright! I'll die!" do Steve é fracote. Mas vejam por vocês. O homem até chora!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Ainda o Sudário de Turim

Algumas das coisas mais interessantes encontram-se quando não andamos à procura. Descobri durante uma pesquisa em nada relacionada com este tema, esta página onde se apresenta, entre outras coisas, uma explicação para a distorção no Sudário de Turim.

Aqueles que dizem que o Sudário foi forjado apontam frequente como prova a falta de proporção verificada na imagem. Os braços são muito longos, o nariz é enorme, as costas são maiores que a imagem frontal. A refutação e explicação lógica para este facto é a existência de rugas e dobras no tecido aquando da formação da imagem. Posteriormente, com o pano esticado, essas rugas deixam de existir, e as proporções da imagem alteram-se. Se este é o Sudário de Jesus esta explicação é mais do que aceitável, uma vez que os discípulos que o enterraram não faziam a mínima ideia do que iria acontecer ao pano, caso contrário teriam retirado todas as pregas.

Até aqui nada de novo, é uma teoria à qual se chega facilmente se pensarmos um bocado. A parte interessante é o que vem a seguir. Ao observarmos a imagem do rosto no Sudário vemos duas dessas pregas que estavam no tecido quando a imagem se formou. Uma entre os olhos e outra mais a baixo, a meio do nariz. Vêem os traços que se prolongam pelo rosto nessas zonas?

Removendo então a distorção causada por essas duas pregas no tecido, obtemos uma imagem bastante mais proporcional e plausível de um rosto humano. Se o Sudário de Turim é o Sudário de Jesus, aqui temos uma imagem bastante mais aproximada do seu rosto:


(As diferenças são bastante evidentes quando comparada com a imagem original, no link acima)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Se alguém te bater na face direita...

No outro dia ouvi alguém dizer o seguinte: "Jesus não teria morrido na cruz se tivesse dito que era cidadão romano. [...] S. Paulo, que não estava lá muito interessado nisso de dar a outra face, disse que queria ser ouvido por César." Fiquei a pensar, sobretudo no facto de esse Paulo ser mesmo um aldrabão, mas isso é assunto para outro post. A questão hoje é outra. Nunca tinha pensado na Cruz como sendo "dar a outra face", mas esse era de facto um dos ensinamentos de Jesus:

"Ouviste o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser debater-se contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado."
(Mateus 5, 38-42)

Dar a outra face. Este é provavelmente o ensinamento mais incompreendido de todos os que Jesus deixou. Não parece lógico deixar que façam de nós gato e sapato sem levantar um dedo sequer para o impedir. Se alguém nos bate, não nos devemos defender? Que ensinamento é este que nos diz para sermos de bom grado o tapete dos outros?

Evidentemente, não é esta a mensagem. Gandhi costumava dizer, "olho por olho e acabamos todos cegos". Se alguém te arranca um olho, de que serve arrancar-lhe um também? O mais provável é que depois surja o desejo de vingança da vingança e quando já não houver olhos se arranquem dentes e corações. Violência gera violência, isto é um facto. E o ciclo vicioso da vingança é outra coisa que não tem fim. Mas se no meio de isto tudo alguém decidir parar e em vez de atacar, não opor resistência (não replicar), tudo acaba. Combater a violência com paz, o ódio com amor. Este é o ensinamento.

Jesus disse: "Felizes os mansos, porque possuirão a terra (terra prometida, Reino de Deus). Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Ele é o Príncipe da Paz, confirmado pelas suas palavras e acções. Conselhos como "dar a outra face" parecem difíceis de seguir - são! - mas vieram da boca do J, e ele sabia do que estava a falar...

Se quisermos, podemos também dar ouvidos a Oscar Wilde, um homem infalivelmente brilhante: "Perdoa sempre os teus inimigos - nada os irrita mais."