sexta-feira, setembro 14, 2007

A César o que é de César

Não gosto quando tentam transformar Jesus num rebelde político. A mensagem de Jesus não tem nada a ver com política, não tinha no tempo dele, não tem agora, e não irá ter nunca. Quando os Judeus estavam sob o jugo Romano, Jesus não fez nenhum apelo à rebelião. Pelo contrário, o seu comentário à situação foi muito interessante. (Mt 22, 15-22)

A história passou-se assim: uns fariseus queriam ver se apanhavam Jesus em falso nas suas doutrinas, por isso decidiram fazer-lhe uma pergunta com armadilha. Perguntaram-lhe: "É lícito ou não pagar o imposto a César?" Esta pergunta traz água no bico. Se Jesus respondesse que não, podia tornar-se rebelde aos olhos dos romanos, se respondesse que sim, ficava mal visto aos olhos dos judeus, por aceitar a submissão do povo.

Mas claro que Jesus os topou logo. Pediu que lhe mostrassem a moeda do imposto, e perguntou, "De quem é esta imagem e esta inscrição?" É de César. Então Jesus disse:

- Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Esta é bem capaz de ser a frase mais separatista do estado e da Igreja em toda a Bíblia. Depois dela, é ridículo insinuar que Jesus era um rebelde político. Rebelde espiritual, talvez, mas político, nunca.

Lembrei-me desta passagem quando no outro dia estava a ver uma reportagem sobre a religião nos Estados Unidos. Aquilo é assustador: eles juntam-se por denominações e votam em massa nos candidatos que estão mais próximos dos seus dogmas e ideais. Os padres/ pastores/ líderes espirituais fazem mesmo campanha durante os serviços religiosos… E depois, claro, temos o famoso "God bless America" no final de todos os discursos do presidente.

Nos dias que correm não se justifica um estado ligado à religião, seja ela qual for. Só traz problemas. Especialmente se o livro dessa religião especificar o território que lhes pertence por "desígnio divino" – mas isso são divagações para outro post. As decisões do Governo não devem nunca ser influenciadas pelos preceitos religiosos. Há tantas religiões diferentes em cada país que jamais seria possível agradar a todos, por isso mais vale deixar a religião de lado definitivamente.

Claro que isto não significa que se tomem decisões sem qualquer tipo de background moral. Devem existir valores e ética pela qual o Estado se rege, que ainda tem o bónus especial de ser comum a 99% de todas as religiões. Também acho que um cristão deve votar enquanto cristão – mas não necessariamente no candidato "cristão", se é que isto faz algum sentido.

Mas acima de tudo, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Gostava de deixar de ver bispos em cerimónias do Estado. E gostava que não tivessem dito que "a Igreja perdeu" quando o sim ganhou no referendo do aborto.